O mundo não precisa de um reboot de Harry Potter

Será que o que o fã realmente quer é o reinício da franquia Harry Potter com um reboot dos filmes?

Harry Potter- Final Scene By tbtb (2007)

A Warner está de mudanças. Desde que se fundiu com a Discovery, formando a Warner Discovery, seu novo CEO David Zazlav vem promovendo mudanças e colocando o que, de seu ponto de vista, pode-se chamar de “ordem na casa”. Mudanças e cancelamentos em diversas franquias da empresa vem sendo anunciada nos últimos meses e tudo indica que não serão as únicas.

Para se ter dimensão das mudanças, a Warner vem promovendo demissões, retirando conteúdo do HBO Max e chegou até mesmo a cancelar filmes que estavam praticamente prontos para o cinema, como Batgirl e Scoob! Holiday.

Zazlav é um homem de negócios em seu sentido mais tradicional cuja trajetória, comentada nesse excelente texto do Seu Curioso, nos mostra um apresso por produções rentáveis. Ou seja, baratas e lucrativas.

No início de novembro, Zazlav voltou aos holofotes ao antecipar para março de 2023 a já anunciada fusão entre a HBO Max e a Discovery+. Ao comentar a estratégia da empresa, deixou muitos fãs animados com a menção a Harry Potter: “Não temos um filme de Harry Potter há 15 anos. Os filmes da DC e os filmes de Harry Potter forneceram muitos lucros para os longas da Warner Bros. nos últimos 25 anos.”

Isso porque muito vinha se discutindo sobre o futuro da franquia Wizarding World após o desanimo do público e da crítica com Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore. Ainda sem cancelamento confirmado, o que se sabe é que a produção de um quarto filme sequer teve início. A declaração de Zazlav poderia então significar que a franquia poderia tomar outros rumos, inclusive aqueles tão pedidos pelos fãs, mas…

Um filme de A Criança Amaldiçoada?!

É sério mesmo? Bom, parece ser… dias depois o portal Puck noticia que David Zazlav tinha interesse na adaptação de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada para os cinemas, dependendo apenas da aprovação de J. K. Rowling.

Criança Amaldiçoada não é de autoria de Rowling. É uma peça de teatro de Jack Thorne e John Tiffany que conta com a aprovação da autora. Sua história é fortemente rejeitada pelos fãs. Spoiler a seguir: a peça é centrada no filho mais novo de Harry e envolve desde viagens no tempo a, acredite, uma filha secreta de Voldemort Bellatrix. Fim do spoiler.

Bom, não precisa dizer mais nada, né? A Criança Amaldiçoada parece ser tudo o que os fãs não querem. Ou, se alguém quer, provavelmente está na última posição da lista de desejos, ao menos até agora. Mas vamos chegar lá.

O que os fãs de Harry Potter realmente querem

A lista de desejos de todo fã de Harry Potter inclui uma varinha, uma carta para Hogwarts em seu nome e jogar Quadribol. Já que não rola, pois no fundo, no fundo, somos todos trouxas, sonhamos acordados com novas produções que complementem o universo.

O formato série é de longe o mais desejado. Filmes são bons, mas curtos e espaçados demais para explorar a fundo os personagens como queremos. Além disso, séries são ideais para atrair e fidelizar assinantes no HBO Max.

Sobre conteúdo, ideias não faltam, mas vou destacar aqui alguns dos que mais quero, mas também os que mais ouvi os fãs pedindo ao longo dos anos:

  • Uma série sobre os marotos em Hogwarts (hors concours)
  • Uma série ou filme sobre a ascensão de Voldemort
  • Uma série sobre a criação de Hogwarts e seus fundadores
  • Uma série de episódios isolados em outras escolas de magia, como Ilvermorny e nosso Castelobruxo
  • Uma produção focada no universo do Quadribol

Além, é claro, dos arcos narrativos já abraçados em Animais Fantásticos que dariam duas excelentes produções — se separadas. Uma série sobre criaturas mágicas protagonizada por Newt Scamander e, de outro lado, um seriado narrando o arco de Grindelwald e Dumbledore: dois personagens complexos, repletos de conteúdo interessante, mas extremamente depreciados nos filmes.

Mas parece que David pensa diferente…

Um reboot de Harry Potter a caminho?

A notícia da vez são rumores sobre um reboot de Harry Potter. Não é a primeira vez que essa especulação se inicia, mas dessa vez um leaker famoso, conhecido como WDW Pro é quem trouxe a informação que a Warner supostamente consideraria um reboot da série Harry Potter, com escalação de novo elenco, para os próximos 3 a 5 anos.

Um reboot é um reinicio completo da série. É um recomeço, como se tudo que foi lançado anteriormente ficasse no passado e apenas o novo passasse a valer. Reboots são muito comuns em todas as mídias. Nos games, séries antigas recomeçam se valendo da proposta de trazê-las para as tecnologias atuais e gerações atuais. Séries e desenhos animados frequentemente fazem o mesmo. De Power Rangers, a Malhação. De ThunderCats a Pokémon.

Um reboot também surge para reparar problemas de narrativa, muitas vezes irreversíveis. Nos cinemas, o mais marcante talvez seja o caso dos X-men, que envia um representante do presente ao passado e dali segue a história sem percebermos que houve um reboot.

Mas outros casos memoráveis mostram que reboots podem ocorrer com frequência. Quantas vezes você se lembra de ver uma aranha radioativa morder um jovem e transformá-lo em herói?

O fato é que reboots são comuns e toda série está sujeita a eles. No entanto, no geral, eles tem uma motivação para existir. Sejam problemas contratuais, como no caso de Homem Aranha com a Sony, seja para reparar roteiro, seja para modernizar uma produção muito antiga, reboots costumam ser minimamente justificáveis para os fãs. E um reboot de Harry Potter simplesmente não é.

Por que o mundo não precisa de um reboot de Harry Potter

Se dois filmes da série já tem idade suficiente para serem chamados de vintage, a última produção de Harry Potter data de 2011. Pouco mais de uma década. Como o próprio Zazlav comenta, ainda é rentável para a Warner, e ainda atrai público.

Não houve nenhuma grande evolução tecnológica desde que os filmes foram lançados que justifique a modernização. A geração atual ainda consome o conteúdo de Harry Potter assiduamente e, como comentei nas duas críticas que fiz dos primeiros filmes após 20 anos, Harry Potter não soa datado.

Há coisas a corrigir? Sem dúvida. É fácil crer que uma nova Hogwarts planejada desde o início para todos os eventos da série traria ainda mais riqueza de detalhes ao universo. Desejos dos fãs como ver o jogo da Copa Mundial de Quadribol e a história dos Marotos em Prisioneiro de Azkaban certamente seriam levados em consideração em novos filmes. Mas será que vale a pena mexer em time que está ganhando?

Harry Potter não foi sucesso por coincidência. Uma série de fatores muito bem alinhados possibilitaram o sucesso dos filmes. Não é fácil selecionar e reter elenco por uma década (em especial adolescentes), se manter consistente em meio a quatro trocas de direção e acertar em oito produções (ainda que não totalmente, é claro).

Além disso, preocupa aos fãs o que a criatividade da Warner pode produzir para tornar justificável uma nova versão. Novos personagens? Novas caracterizações? Novas histórias paralelas? Isso vindo de uma Warner que se mostra irregular em acertar o gosto do público em franquias como a DC, além de interessada em enxugar orçamento.

Por fim, o maior temor é evidente. Se Animais Fantásticos com cinco produções confirmadas já tem seu destino incerto, o que pode vir a acontecer com Harry Potter caso seu recomeço não seja bem sucedido? Podemos ter uma nova série pela metade?

Em caso de dúvida, escute seus clientes

David Zazlav definitivamente é um homem do show business com B maiúsculo. Ele sabe do potencial financeiro que um reboot de Harry Potter pode ter. Meu ingresso é garantido, ainda que seja o pior dos filmes estarei lá para ver, mas não é essa a relação que eu quero ter com a franquia.

Quero ter uma relação que me faça sair dos cinemas, da frente da TV ou da plataforma que for, ansiando por mais, mobilizado até a manter um site para abordar esse universo. (E eventualmente consumindo produtos licenciados, e desta forma contribuindo com a solidez financeira da Warner? Sim.) Essa também parece ser a vontade da maioria dos fãs, pela repercussão da notícia.

E se esse é o desejo do cliente, um homem de negócios deve saber ouvir. É fundamental que a Warner escute a comunidade, entenda seus desejos e invista seus esforços em proporcionar aquilo que buscamos. Afinal, a energia que a Warner gasta para produzir material para nós é infinitamente inferior à energia que seus fãs dedicam consumindo conteúdos, se inspirando nesse universo e trazendo amigos para curtir junto.

Show business além de business é show, e show só é bom quando a plateia vibra junto.

Esse é um texto de opinião. Concorda? Discorda? Deixa nos comentários o que você pensa sobre um reboot de Harry Potter.

Ilustrando esse artigo: Harry Potter- Final Scene-Tom. Por tbtb, no Deviant Art (2007).




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