Crítica: Os Segredos de Dumbledore. Animais Fantásticos fez mal ao mundo bruxo?

Será que Os Segredos de Dumbledore conseguem colocar a série Animais Fantásticos de volta nos trilhos? Leia a nossa crítica (com spoilers)

Finalmente o dia chegou! Assistimos na pré-estreia e agora você confere a nossa crítica de Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (com spoilers). Deixe seu comentário se concorda ou discorda da nossa análise.

Crítica: Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (2022)

Depois de sete aventuras e diversas declarações de que a série se encerraria por ali mesmo, ninguém mais acreditava que J. K. Rowling assumiria o desafio de dar uma sequência à saga Harry Potter. Com exceção possivelmente dos acionistas e da alta cúpula da Warner Bros., a verdade é que ninguém acreditava que houvesse um passo seguro a ser dado, uma nova história a ser explorada, sem comprometer o legado tão coeso construído até então.

E talvez estivessem todos certos, mas somos fãs e, mesmo na incerteza, rever lugares e personagens tão queridos sob a ótica e o texto de sua criadora parecia sim ser uma aposta viável. E foi. Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016) foi um alívio, um acalanto aos corações sedentos por mais magia.

O quarteto encabeçado por Newt Scamander tinha o carisma necessário, a química fluiu e o fato de serem adultos, em um mundo mágico, mas adulto, com os fãs que cresceram lendo Potter agora também adultos, soou como o match perfeito para reviver o universo da autora.

Mas aí chegaram Os Crimes de Grindelwald (2018), revelando que a ambição da autora era realmente de contar uma história muito mais profunda. O vilão que dá título ao filme é, depois de Voldemort, o maior bruxo das trevas que já existiu e já em Pedra Filosofal recebemos o spoiler que ele havia sido derrotado por ninguém menos que Dumbledore em um duelo em 1945. Perfeição, quer um arco melhor para narrar do que esse?

Pois não foi essa perfeição toda o que se viu a partir dali. O segundo filme foi um fracasso de crítica, de público e trouxe a incerteza para o futuro da série, que tinha não mais três mas agora cinco filmes previstos ao todo. Rowling entregou um roteiro falho, personagens rasos e sem motivação. Com toda essa insegurança (e um pouquinho de pandemia global), o terceiro filme teve que dar alguns passos atrás. Jhonny Deep deixou o papel de antagonista em meio a escândalos, enquanto, de forma não declarada, todos sabem que Rowling reescreveu partes do roteiro e novas cenas foram filmadas.

Chegamos então a 2022, depois de quatro anos de hiato, ávidos para descobrir Os Segredos de Dumbledore. Ávidos sim, poxa, se o segundo filme foi ruim, ele ao menos deixou perguntas (clichês, ok) em aberto para serem respondidas. Pois bem.

Não é como se fossem os Crimes de Grindelwald, em que praticamente não há crimes. Os Segredos de Dumbledore é competente em revelar alguns dos tais segredos, mas falha em muitos dos pontos que seu antecessor também falhou.

Animais fantásticos e uma história política

Meu livro favorito da saga Potter é sem dúvidas O Enigma do Príncipe. Ele já abre com um tom mais adulto, com o primeiro ministro trouxa lidando com acontecimentos do mundo bruxo e nos situa que Harry Potter é um universo de ficção mas muito bem preso à realidade ao seu redor. Mesmo sob a perspectiva de um menino de 15 para 16 anos, há disputas e questionamentos adultos em jogo correndo em paralelo.

Grindelwald é um vilão mais polido do que Voldemort. Ele opta por uma vertente mais política e escalada hierárquica para seu projeto de dominação. O lado político dos adultos é retratado dessa vez. E como sabemos, a política é muito mais sobre diálogo e negociação do que sobre explosões e tiroteios.

É aí que se agrava o que já vimos no filme anterior. Refém de seus personagens carismáticos e de seu projeto aparentemente despretensioso ao criar um quarteto principal totalmente alheio ao arco Dumbie-Grind, Rowling é obrigada – inclusive comercialmente – a dar mais uma vez espaço a um despropositado Newt Scamander e às suas criaturas que pouco ou nada tem a ver com uma história política. Faz falta entender as posições da brasileira Vicência Santos e do chinês Liu Tao, mas devem ser irrelevantes já que nem Newt abraça um dos lados.

Mads Nikkelsen convence mais do que Depp como Grindelwald, mas perde a chance de ter uma construção melhor elaborada que o leve do ocorrido em Paris no filme anterior até uma absolvição e candidatura para o maior posto do mundo da magia.

A eleição, aliás, merece o título de disputa mais sem graça e sem sentido, e escancara o rumo puramente comercial que a série vem tomando. Já que somos “Animais Fantásticos”, temos que ter um animal que decide o vencedor da disputa. E ela precisa ocorrer no Butão, enquanto a história se passa em Berlim e no Reino Unido, e ter candidatos da China e do Brasil, com protagonistas dos EUA, afinal precisa vender bem no mundo todo

Calma, calma, não sou antiglobalização. Mas vamos concordar que ela fluía melhor quando víamos franceses e búlgaros em Cálice de Fogo do que incendiando capitais europeias ou visitando ministérios aleatoriamente.

Fotografia e efeitos especiais

David Yates anunciou recentemente que este foi o último filme do mundo bruxo que ele vai dirigir. Desde Ordem da Fênix, é ele quem assina os longa-metragens e é fácil identificar uma coesão visual entre todas as produções.

Mais uma vez, os efeitos visuais dão um show a parte. É incrível a capacidade do estúdio em entregar animais e ambientes tão realistas. Ponto também para a crescente criatividade ao retratar feitiços, que empolgam cada vez mais.

Já os enquadramentos, bem… Yates é notório pelos planos estáticos e preguiçosos. Ele parece se orgulhar tanto do cenário rico e detalhado que sempre constrói que privilegia dar a oportunidade do espectador de identificar detalhes ao fundo da cena ao invés de usar a câmera e os enquadramentos como forma de transmitir mais emoção.

Ou talvez seja uma forma poética de dizer que ele tem limitações para usar recursos de fotografia. O fato é que com tantos filmes na série, Yates já consegue transformar essa sua limitação em estilo, mas que vai ser bom ver uma nova direção em um possível próximo capítulo.

Os furos de roteiro e a necessidade de se superar constantemente

Foram quatro anos até Harry ter seu primeiro duelo brevemente com Voldemort. Depois eles se encararam mais um par de vezes em encontros breves até que no sétimo capítulo Hogwarts quase veio abaixo em uma batalha épica. Vemos uma crescente na série, muito bem planejada, e seu ápice.

Mas quando chega Animais Fantásticos e Onde Habitam, vem junto a necessidade de se superar para se manter grandioso. E como fazemos isso? Que tal explodir Nova Iorque, ou atear fogo em Paris?! A ideia seduziu e a produção comprou.

O problema é que estamos tratando de um “prequel“, uma história predecessora à de Harry Potter, onde teríamos os feitos do maior bruxo das trevas de todos os tempos. Isso gera uma desproporcionalidade entre as histórias que, de vez em quando, é mal e brevemente corrigida na saga com elementos igualmente desproporcionais (como chuvas que apagam a memória).

Dessa vez eles vão além. Não, não há nenhuma grande destruição, mas um breve e insosso duelo entre Dumbledore e Grindelwald ocorre durante um evento que é transmitido ao vivo globalmente – sabe-se lá como – e a solução para minimizar o impacto dessa vez parece ser uma nova dimensão. Algum tipo de multiverso que beira o mundo invertido de Stranger Things e flerta com Frodo colocando o Um Anel, onde aparentemente ninguém viu que acabou de ocorrer uma enorme batalha.

Para fechar, há também uma série de pequenas incoerências com o que vemos em Harry Potter. Só para citar duas:

  • Draco Malfoy em Enigma do Príncipe utiliza a Sala Precisa para criar uma passagem para entrarem em Hogwarts, mas pelo que jeito bastaria que ele desejasse isso à sala e já teria um portal muito mais estiloso decorado com o tema do local de destino.
  • Por que Batilda Bagshot não menciona Creedence como sendo filho de Abeforth em seu livro sobre a vida de Dumbledore? A não citação a Creedence sempre foi atribuída pelos fãs como prova de que ele não fazia parte da família Dumbledore, mas pelo jeito…

Avaliação geral

Os Segredos de Dumbledore tem sim seus momentos positivos. Mais um vez é necessário ressaltar quão melhor Mads Nikkelsen ficou no papel de Grindelwald. Jude Law não se iguala ao filme anterior mas entrega um Dumbledore ao menos bom o bastante. Os destaques na atuação vão para Dan Fogler, que segue interpretando um Jacob engraçadíssimo, e que fica ainda melhor quando em cena com Jessica Williams (Eulalie Hicks).

Já quanto à história, se haviam perguntas para ser respondidas nesse filme, elas de fato foram. Grindelwald ainda está à solta e ainda representa uma ameaça, mas não há nenhum “Quem matou Odete Roitman” para nos manter intrigados para retornar ao cinema para um quarto episódio.

Com isso, o futuro da franquia permanece em cheque e o problema está claro. Para voltar a atrair multidões ao cinema ela precisa entregar o essencial: um bom roteiro. No entanto, para entregar um bom roteiro, ela precisa fazer escolhas, e isso pode significar abrir mão de muito do que foi feito até aqui.

Animais Fantásticos parece não ter química com a saga de Grindelwald. São universos e perspectivas distintas que necessitariam de muito mais aprofundamento para convencer sobre as reais motivações de seus excessivos personagens e acaba por ser raso em todos os núcleos. A série ficou refém de seu próprio sucesso no primeiro filme, mas já não cabe mais se restringir a isso.

★★☆☆☆

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Comentários

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Um comentário a “Crítica: Os Segredos de Dumbledore. Animais Fantásticos fez mal ao mundo bruxo?”

  1. Avatar de Lucas Prado

    O erro do segundo filme foi a pressa para fazer mais filme, aí veio um roteiro simples e que não cumpre com as expectativas, também tem o fato de que Tina Goldstein foi tirada do terceiro filme,como auror ela tinha mais importância no filme que o próprio Newt.




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