Harry Potter: 5 problemas de tradução que mudaram o sentido na história

Descubra os problemas na tradução de Harry Potter que alteraram o sentido original e mudaram a forma como os fãs entenderam a história.

Problemas de tradução em Harry Potter: Olivio Wood é um deles

Os livros de Harry Potter estão entre os mais traduzidos do mundo, com publicação em, pelo menos, 85 idiomas. Mas a adaptação de um universo com tanta riqueza e tantos significados únicos raramente é perfeita. Por isso, hoje vamos abordar os problemas de tradução de Harry Potter para o português brasileiro que dificultam a compreensão, confundiram os leitores ou, até mesmo, mudaram a forma como você entendeu a história.

Antes de começar, quero reconhecer o excelente trabalho feito por Lia Wyler. A tradutora dos livros de Harry Potter, que nos deixou em 2018, provou que traduzir não é só mudar de idioma, mas é também localizar. Ou seja, utilizar referências da cultura local para facilitar a compreensão de uma história que se passa em outro país, em outra cultura.

No entanto, seja por opção da tradução, seja por não ter mesmo como resolver, alguns problemas na tradução de Harry Potter mudaram o sentido do texto original e são elas que nós vamos ver:

5 problemas na tradução de Harry Potter que mudaram a forma como você entendeu a história

#5 Um cepo de madeira

Em Harry Potter e a Pedra Filosofal, após Harry ser visto por McGonagall voando ilegalmente e apanhando o lembrol de Neville, ela leva o garoto à sala de aula de Flitwick e diz ao professor: “com licença, Prof. Flitwick, posso pedir o Wood emprestado por um instante?”. Nesse momento, Harry fica intrigado acreditando que ela pedia algo para castigá-lo, até que então descobre que Wood era uma pessoa. Mas o leitor brasileiro fica sem entender porque Harry estaria tão preocupado

Na verdade, o sobrenome de Olívio Wood significa madeira em inglês, mas não foi traduzido. Então a frase original seria algo como “Prof. Flitwick, posso pedir a madeira emprestada por um instante?”. Se fosse eu, já teria saído correndo.

#4 Sobre Muggles e Trouxas

A mais clássica piada que você já deve ter ouvido sobre Harry Potter não deveria ser uma piada. “Você é trouxa?”, “deixa de ser trouxa!”, “pena que você é trouxa” e afins são uma brincadeira recorrente com o termo que designa os não bruxos. Mas você sabia que o termo original, Muggle, não tem nenhum significado?

Ele foi inventado pela autora J. K. Rowling para se referir aos não bruxos como uma classe inferior. Talvez por isso ao traduzir, Lia Wyler tenha optado por encontrar um termo que fosse sinônimo de ignorância ou conhecimento inferior. Mas, ao final, ela acabou gerando uma brincadeira que não era inicialmente para acontecer.

#3 A plataforma do Expresso de Hogwarts

Não importa se você leu os livros de Harry Potter primeiro ou se viu os filmes primeiro, com certeza ficou intrigado com o verdadeiro número da plataforma de embarque do Expresso de Hogwarts. Mas é nove e meio ou nove e três quartos? Será que o filme errou mais uma vez na adaptação?

Pois saiba que, dessa vez, o problema não está nos filmes, mas nos livros, especialmente nos livros em português brasileiro. O correto originalmente é Plataforma 9 e 3/4, mas ao adaptar Lia Wyler provavelmente avaliou a dificuldade que os leitores mirins teriam para pronunciar, enquanto “meio” é muito mais comum de se falar em português.

#2 Os Marotos

Não que tenha comprometido a história, mas muita gente não entendeu quem era Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas e, principalmente, porque eles tinham esses nomes. O grupo de estudantes formado por Sirius Black, Remo Lupin, Pedro Pettigrew e James Potter, intitulado Os Marotos, teve uma tradução para o português que exige um pouquinho mais da gente pra entender seu significado. Mas vamos explicar para você:

  • Aluado – Moony: esse é o mais fácil de entender. Remo Lupin é um lobisomem, por isso seu apelido original “Moony” significada algo relativo à Lua (Moon), por isso ficou como Aluado.
  • Rabicho – Wormtail: o apelido original de Pettigrew, em inglês, é uma junção de “worm” (minhoca) com “tail” (cauda). Ou seja, rabo de minhoca, em referência ao seu rabo de rato quando transformado. É um pouco longe, mas até que está perto, vai.
  • Almofadinhas – Padfoot: aqui começa a embananar. Isso porque o termo “almofadinha” em português tem o sentido de pessoa rica e mimada, o mesmo de “nascido em berço de ouro”. O que até se adequa à realidade da família Black, mas os “pés almofadados”, que seriam a tradução mais literal para Padfoot, são uma referência à sua pata peluda quando transformado em cão.
  • Pontas – Prongs: para o pai de Harry Potter ficou o posto da pior tradução. Prongs realmente significa pontas, mas não é capaz de transmitir a mensagem original: uma referência às pontas dos chifres de sua transformação em cervo. Talvez “galhos” ou “pontudo” fizessem mais sentido.

#1 Harry Potter e o Enigma da Tradução

Lembro como se fosse hoje toda a especulação sobre qual seria o nome em português para Harry Potter and the Half-Blood Prince. O Príncipe Mestiço e o Príncipe Bastardo, traduções mais literais, estavam entre as principais apostas, até que a Rocco confirmou que se chamaria “Enigma do Príncipe“. Mas o mais curioso da escolha foi alterar o termo menos problemático e manter aquele que realmente confunde.

Como sabemos, o príncipe mestiço é sim mestiço, mas não é um príncipe. Todo o mistério da trama gira em torno de um problema bastante difícil de se resolver com tradução: o nome completo de Snape é Severo Prince Snape, sendo Prince o termo em inglês para “Príncipe”.

Ou seja, ele se denominava Half-Blood Prince pois se chamava Prince e era mestiço, e não um Príncipe Mestiço. Mas aqui temos que dar o maior dos descontos, pois nunca encontrei ninguém com uma sugestão melhor para localizar essa parte da história. Tem alguma? Comenta aqui pra gente.

O que você acha da tradução de Harry Potter?

Particularmente, eu sou fã do trabalho de Lia Wyler e reconheço os grandes desafios que ela teve para localizar uma obra como Harry Potter, mas também consigo entender algumas das críticas sobre nomes de personagens e termos. No entanto, de forma geral, eu acho que ela se saiu muito bem.

E você, o que pensa das traduções? Alguma delas é novidade pra você ou foi mais difícil de entender quando você estava lendo? E o que acha sobre traduzir nomes como James Potter para Tiago? Deixa nos comentários, o Mundo Bruxo é um espaço para a gente discutir aquilo que a gente mais gosta: Harry Potter.

Ilustração: Oliver Wood-Quidditch Uniform Design, por VladislavPandic no DeviantArt.


Comentários

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50 respostas para “Harry Potter: 5 problemas de tradução que mudaram o sentido na história”

  1. Avatar de Gui Santana

    Achei bastante interessante, atente-se ao fato que títulos de obras comerciais não são feitos pelos tradutores, ma pela equipe de marketing. A escolha de Enigma do Príncipe pu qualquer outro título não partiu da Lya. Eu tenho um trabalho em que comparo as traduções do português, francês, espanhol e o original de Harry Potter. Tem muita coisa legal.

  2. Avatar de Pedro

    Falo inglês, espanhol e português e li os livros nas três línguas o português tem a pior tradução, outro erro foi traduz o nome das casas “lufalufa” por Deus o que é isso

  3. Avatar de Victor

    Manter os nomes originais e ao mesmo tempo manter o sentido dos trocadilhos é bem desafiador. Às vezes dá certo e às vezes não. Igual o dono da loja de varinhas, que no original é Ollivander pra ser uma referência à wand (varinha em inglês) e em português ficou Olivaras pra ser uma referência à varinha.

    Quanto ao Olivio Wood, pra manter o efeito cômico do Harry achar que a Minerva queria cacetar ele, só se o nome fosse traduzido pra Olívio Carvalho, aí o diálogo ficaria “com licença, Prof. Flitwick, posso pedir o Carvalho emprestado por um instante?” Kkkkkkkkkkkkk

    Carvalho foi o sobrenome sinônimo de madeira mais comum que eu consegui me lembrar, mas graças ao ChatGPT descobri mais alguns que também poderiam servir como boa tradução ou só pra gente rir mesmo rsrs e aqui estão:

    – Oliveira (Olívio Oliveira soa bonito e condiz com o que a JK Rowling fez com alguns personagens, do nome ter a mesma letra do sobrenome)
    – Pinheiro (imagina o medo do Harry ao pensar que a Minerva ia pegar um pinheiro inteiro pra bater nele kkkkkkkkkkkkk)
    – Pereira
    – Silva
    – Castanheira
    – Pau-Brasil (Olívio Pau-Brasil não né, por favor kkkkkkkkkkkkk)
    – Jacarandá (melhor que o de cima, mas continua engraçado rsrs)
    – Cedro (talvez um dos mais adequados)
    – Eucalipto (vai que o Harry não é muito chegado em chá de eucalipto rsrs)
    – Jatobá (empresta o jatobá aí, professor kkkkkkkkkkkkk)
    – Aroeira
    – Araújo (referência a araújo-branco, uma madeira brasileira)

    1. Avatar de Bruno Pedrozo

      MEU DEUS hahahahaha

    2. Avatar de Nelson Da Costa Medeiros Junior

      Existe o sobrenome Madeira.
      Mas a questão da tradução seria facilmente resolvida com o pronome de tratamento Sr. Madeira, mas n é essa a questão, é que nao usamos o sobrenome para referencial alguma pessoa como é usado na Inglaterra e USA, aqui usamos o nome

    3. Avatar de Gabriela Franco de Moraes

      ADOREI!! Foi impossível não rir! Parabéns!
      Pena que q a Lia Wyler não teve vc como assistente.

  4. Avatar de Mariana Dias

    Sobre o Olivio Wood eu não sabia, mas o resto tá de boa.
    Eu sendo estudante de literatura, tendo estudado educação infantil, literatura infantil e me atrevo a escrever, sei que toda obra voltada para criança, deve ser adaptada para sua língua materna. Portanto colocar o nome de Tiago no James ou 9¾ virar 9⅕, entre outras situações, não tem problema algum e se fazem necessárias. O que acho complicado é a adaptação para o cinema, pois algumas partes que não leu os livros, não entenderam até hoje o que a cena queria dizer.

  5. Avatar de Winston

    A gente deveria dar graças a Deus por ter uma tradução no mínimo compreensível e que não compromete a história fortemente. Experimentem ler a versão em francês… Até Hogwarts tem outro nome (Poudlard). Fico imaginando o desespero dos fãs de língua francesa ao visitar os estúdios e parques temáticos dos filmes, sem entender nada.




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