Crítica: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban 20 anos depois

Será que Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban continua atual 20 anos após seu lançamento? Confira nossa crítica sobre o filme.

Poster de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, sucesso de público e crítica.

É oficial: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban completa hoje 20 anos de seu lançamento e, como já é tradição no Mundo Bruxo, assistimos novamente o filme para elaborar uma crítica. Mas não é qualquer crítica, a ideia é analisar como o filme se sai duas décadas após o lançamento e seu impacto na franquia. Então, vamos lá?

Crítica de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, duas décadas após o lançamento

O maior desafio de todo filme de fantasia, sobretudo aquelas que retratam um mundo inteiramente fictício, é parecer real. Não basta imaginar que todos os elementos que você vê em tela existem de verdade, é também necessário que os personagens, situações e ambientação se integrem de forma tão harmônica que tudo soe natural.

Toda a saga Harry Potter ganha uma nova proporção após Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Este, que é tido por muitos como o melhor filme da franquia, foi o responsável por uma mudança de tom drástica, mas necessária. E isso se deve, sobretudo, à mudança na direção: sai Chris Columbus, que fez os dois primeiros filmes, e entra Alfonso Cuarón, reconhecido diretor mexicano, mas que nunca tinha comandado nada do porte de um Harry Potter. E o fez com brilhantismo.

De Chiquititas…

Na minha crítica após 20 anos de Pedra Filosofal, comento que o primeiro filme da saga era uma colorida produção de fantasia para agradar à família. Isso porque ali tudo parece infantil, um mundo ao redor de crianças, inocente e limitado aos portões da escola.

Hogwarts, um internato encantado, limitava a trama na relação aluno-professor. Sem comparação direta entre as produções, Hogwarts era como o orfanato de Chiquititas: dominado por crianças, vivendo seu mundo de fantasia que, embora tenha mazelas e perigos, estavam na maior parte do tempo alheios ao que acontece lá fora.

Mas Cuarón tinha uma leitura diferente para tudo isso. Afinal, são bruxos. Uma comunidade que faz as coisas de maneira não lógica, esdrúxula, bizarra, até um pouco repugnante em alguns momentos. Que vivem em uma sociedade real, onde há a escola, mas também há o transporte público, a prisão e o vilarejo. Onde há preocupações com a segurança pública e em como a política atua nela. E, claro, temos que concordar que a brilhante história de Prisioneiro de Azkaban, com todos seus cenários e perigos, é quem permite a ele explorar tudo isso.

…a Tim Burton

Mas a questão não é “o que” Cuarón retrata, e sim “como” ele faz isso. É muito fácil imaginar, por exemplo, o mesmo Noitibus Andante dirigindo rápido, mas prudente. Sem um boneco medonho que faz piadas ou um motorista com óculos fundo-de-garrafa que mal enxerga o caminho. Mas é na bizarrice que Cuarón diverte e se destaca.

Em praticamente todas as cenas, há algum detalhe que nos reafirma que estamos em um universo mágico. Uma cadeira que se coloca sozinha no lugar, um aluno praticando magia, um quadro no visitando os seus vizinhos… Hogwarts está viva como nunca, e tão excêntrica que parece que estamos em um filme de Tim Burton, premiado diretor de clássicos fantasiosos como A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), A Noiva Cadáver (2005) e Alice no País das Maravilhas (2010).

Ao mesmo tempo, Cuarón nos aproxima da realidade humanizando os personagens. Se todo o universo está mais bruxo do que nunca, os protagonistas estão mais trouxas, com vestes comuns e convívio natural. Adolescentes que brincam o tempo todo e até brigam. Belo soco, Hermione.

Aberta a temporada de cortes em Harry Potter

Por outro lado, rever Prisioneiro de Azkaban continua agridoce aos ímpetos de fã, que quer a história toda literal na tela. O terceiro filme deixa de fora toda a história dos Marotos. Nunca vou saber se quem não leu os livros conseguiu entender a profundidade da relação de Tiago Potter, Remo Lupin, Sirius Black e Pedro Pettigrew. (Provavelmente, não).

O filme de Câmara Secreta foi extremamente fiel ao livro, mas foi longo. E, de fato, Prisioneiro de Azkaban tem ritmo e duração muito mais agradável, principalmente hoje em dia, em que tudo, dos filmes às músicas, estão cada vez mais curtos. Mas ao revê-lo, já sabendo o que esperar, a sensação é que poderiam ter cortado tempo das (maravilhosas) cenas de transição e adicionado em um flashback que explicasse melhor a história do quarteto.

O triste para nós é que isso provou que seria, sim, possível omitir trechos relevantes ou empolgantes das histórias de Harry Potter nas adaptações futuras. Mas vamos deixar esse assunto para a Crítica de 20 de anos de Cálice de Fogo, que deve sair o ano que vem...

Efeitos e atuações duas décadas depois

Vou ser breve quanto aos efeitos. Prisioneiro de Azkaban ainda é atual e cumpre seu papel principalmente ao não nos incomodar com o que vemos. Tudo ainda parece bastante realista, impressionante, mas natural… até mais que nos filmes anteriores, por estar tão vivo. Dá pra ver uma máscara mais imóvel em Hagrid ou perceber que o Bicuço é um animatrônico? Um pouquinho, mas só se você procurar por isso.

Outro grande destaque é a caracterização dos novos personagens, somada, é claro, às ótimas atuações. Sirius Black e Sibila Trelawney ficaram impecáveis. Um mais sombrio, cheio de tatuagens e marcas, a outra, lunática e excêntrica. Isso sem falar na tia Guida como balão… maravilhoso.

Mesmo o trio principal também está melhor em cena, mais confortáveis com seus papéis. Eles são, inclusive, mais fiéis a seus personagens no livro, adolescentes normais e menos polidos. Até Daniel Radcliffe, considerado por muitos e por mim o ator menos brilhante dos três, é um Harry mais convincente. Fez sua lição de casa.

Sobre furos de roteiro e armadilhas

Se Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban é tão perfeito na expansão e caracterização do universo, é ele mesmo quem cria as armadilhas para termos problemas para apontar. O filme cria situações desnecessárias e deixa questões sem muita explicação. Algumas delas:

  • Harry vê um patrono em forma de cervo e acredita ser seu pai lhe ajudando. Mas em nenhum momento o filme explica que essa era a forma animago de seu pai, nem que o patrono de Harry também era um cervo. Pior: sequer fica claro que patronos assumem formas de animais.
  • O sinistro, figura do cão preto que representa perigo, piora ainda mais a compreensão da história. Quando Harry vê a nuvem em forma de cão, somos induzidos a pensar que o tal sinistro é real e que Harry corre perigo. Na verdade, no livro, Harry vê um cão preto na plateia do campo que é Sirius, como animago, assistindo ao jogo do afilhado.
  • Hermione, na sala de aula, diz claramente que lobisomens só respondem ao uivo de sua espécie. Mais para a frente, ela mesma uiva para desviar a atenção do lobisomem.

E, para fechar, PRECISAMOS comentar sobre a incrível força de Hermione, que consegue levantar Harry pela gola da camisa na cena do Salgueiro Lutador. Talvez a cena de maior vergonha alheia em toda a série Harry Potter.

Avaliação final: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban 20 anos depois

Não há como questionar, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban é, se não o melhor, um dos melhores filmes da saga. Seu impacto na construção do universo e no tom adequado para a franquia foi enorme. Eu mesmo tenho uma certa preguiça em rever Pedra Filosofal e Câmara Secreta, pois são longos e mais infantis, mas Prisioneiro de Azkaban é tão gostoso hoje quanto foi para minha versão pré-adolescente de 20 anos atrás. Cuarón definitivamente deixou sua marca e é uma pena que não tenha seguido para mais filmes de Harry Potter.

Descontando migalhas, devido aos cortes na adaptação do roteiro, que acho que não ficam tão claros assim, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban faz por merecer a nota 4.5 de 5.

Ilustrando esse artigo: poster de divulgação, da Warner Bros.


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