Crítica: Harry Potter e a Câmara Secreta 20 anos depois

Como se sai o segundo filme da série em uma análise após duas décadas? Confira a nossa crítica sobre Harry Potter e a Câmara Secreta.

Ilustração de carro voador dos Weasley chegando ao castelo de Hogwarts

Harry Potter e a Câmara Secreta completou 20 anos de seu lançamento em novembro. Foi o primeiro da série que vi nos cinemas e me alegra escrever uma crítica sobre ele. Se você concorda ou pensa diferente, deixa um comentário. Vamos à nossa crítica de Harry Potter e a Câmara Secreta?

Crítica: Harry Potter e a Câmara Secreta

Quando escalou Chris Columbus para dar início à franquia Harry Potter nos cinemas, a Warner deixava clara sua leitura sobre o que viriam a ser os filmes da série. Chris era um diretor experiente, responsável pelo enorme sucesso Esqueceram de Mim e com participação em Os Goonies, Greemlins e Um Herói de Brinquedo. Grandes produções lúdicas voltadas ao público infanto-juvenil, recheadas imaginação e diversão.

Como dissemos um ano atrás em nossa crítica de 20 anos de Harry Potter e a Pedra Filosofal, o diretor foi competente em debutar a série. Soube traduzir para o cinema a magia das páginas dos livros de J. K Rowling. Acertou na seleção do elenco e encantou com cenários e enredo bem adaptados da obra original.

Sucesso de público e de bilheterias, Harry Potter se tornara uma franquia anual. Isso não se devia somente a interesses financeiros, mas também da própria produção, afinal o elenco era adolescente e cresceria muito rápido.

Os desafios da produção de Câmara Secreta

O prazo era curto. Um filme como esse exige um longo período de pós-produção para entregar efeitos especiais de qualidade e Câmara Secreta trazia propostas ainda mais desafiadoras, como o elfo doméstico Dobby e um carro voador. Naquele mesmo novembro de 2001, enquanto Pedra Filosofal se lançava nos cinemas, o segundo filme iniciava suas gravações com as cenas de quadribol (cujo resultado no primeiro não correspondeu às expectativas do diretor justamente devido ao pouco tempo de execução).

O enredo, por outro lado, cobrava por mudanças de tom no universo recém criado. Harry agora tinha apenas 12 anos, mas o que o aguardava era mais do que descobrir ser bruxo, estudar em um castelo fantástico e enfrentar desafios como um jogo de xadrez. O desafio agora envolve sangue nas paredes, monstros gigantes e uma tentativa de extermínio de nascidos trouxas.

Se em Prisioneiro de Azkaban a mescla entre a magia e o obscurantismo viriam a ser elogiados, é justamente hoje, quando a comparação passa a ser possível, que Chris se mostra aquém. Talvez não tenha se dedicado o bastante a encontrar o ponto de equilíbrio, talvez não fora esse seu objetivo tendo em vista os acertos do primeiro filme ou, talvez ainda, ele entregou aquilo que sua bagagem com filmes infantis lhe permitia.

Não é como se não houvessem mudanças. O drama está lá e a fotografia está sim mais sombria — e vai escurecendo e esfriando conforme o perigo aumenta. Os vilões se mostram mais marcantes, com destaque para a excelente caracterização e atuação de Jason Isaacs como Lúcio Malfoy (e também de Tom Felton retornando como seu filho Draco). Mas a ameaça representada por eles destoa dos caricatos bruxos das trevas que vemos na Travessa do Tranco — esses parecendo ter saído de contos como Branca de Neve e afins.

Um adaptação quase literal

Hogwarts não é mais tão novidade assim e, com exceção belíssima toca dos Weasley — que já vou comentar — não há mais lugares fantásticos a serem apresentados. Talvez as estufas do castelo ou a própria câmara secreta? Puxadinhos que aquecem o coração dos fãs, ávidos por conhecer mais, mas não suficientes para “tankar” o enredo como foi antes.

Câmara Secreta é um segundo passo, quando o espectador já tem as bases do que forma aquele universo, e espera apenas por uma história que se passe nele. E a história em si é muito boa. Uma trama amarrada que, perdoando as conveniências e coincidências que colocam o trio principal no centro, desperta mistério e traz um bom plot twist com a revelação do vilão.

Porém o ritmo soa arrastado. Câmara Secreta é o segundo menor livro da série mas tem o filme de maior duração. A adaptação, novamente a cargo de Steve Kloves, é literal e abre mão de poucos momentos ao transportar a história para o cinema. Não totalmente literal, ele também se permite alguns absurdos como colocar toda a escola para aplaudir Hagrid e transformar todos os feitiços em jatos de luz, mas o arco da história está integralmente ali.

Inclusive, esse é, na minha visão, o filme mais fiel. Aquele que um leitor poderia perfeitamente abrir mão do livro sem comprometer em nada sua compreensão. Mas, novamente, é o fator comparação com seus sucessores que coloca Harry Potter e a Câmara Secreta em cheque. Será que precisávamos mesmo de quase 3 horas de filme? Algumas concessões teriam tornado a experiencia de reassistir mais adequada ao cinema atual.

Por outro lado, a escolha de ser literal e de dedicar mais tempo de tela permite diálogos e a construção de personagens que viriam a ser úteis à franquia no futuro. Quem não esperava que a trama mais para a frente fosse se tornar uma guerra ideológica, ao rever o filme encontrará aqui os primeiros indícios de comentários sobre “sangues ruins” e uma cena (apenas na edição estendida) em que Lúcio se mostra incomodado com a possível aprovação de uma lei de proteção aos trouxas.

Deleite em efeitos especiais e práticos

Passadas duas décadas, o que mais se espera de um filme “antigo” (oh, céus) é perceber os defeitos e limitações da tecnologia da época. E eu fui com muita sede ao pote reparar nos detalhes de sombra, textura e expressões faciais de Dobby… caí da vassoura. O elfo é perfeito, muito superior à sua volta em Relíquias da Morte – Parte 1.

O trabalho da equipe técnica em criar digitalmente o personagem salta aos olhos junto com a direção sobre Daniel Radcliffe, que interage brilhantemente com ele. E repetem o feito com os hilários diabretes da Cornuália que afugentam até os retratos do professor Lockhart.

A cada cena, a resposta da produção para os picos de criatividade de Rowling ganha mais destaque. Columbus definitivamente cumpriu seu objetivo de proporcionar um quadribol mais dinâmico e veloz. A toca dos Weasley é impecável. É tão mágica e, ao mesmo tempo, tão aconchegante que você quase consegue sentir o seu cheiro (que na minha cabeça mescla algo como grama, madeiras e biscoitos recém assados).

Impressiona ainda mais saber que praticamente tudo ali foi feito de forma prática. Ou seja, são mecanismos feitos pela produção para animar o cenário. A mesma técnica foi usada na fênix Fawkes. Animatrônicos do pássaro em sua versão adulta e bebê foram feitos para contracenar com Harry e Dumbledore. Aposto que se eu não falasse isso você nem iria desconfiar.

Os momentos que o filme se mostra mais datado ficam por conta do carro voador dos Weasley, a perseguição das aranhas e o basilisco. Todos eles convencem e dá para dizer que a equipe fez o seu melhor, mas é onde ainda se pode perceber um trabalho um pouco menos polido (ou é exagero da minha parte?!).

Atores e personagens

Quase todo o elenco é, felizmente, um replay de Pedra Filosofal. O trio principal retorna com visíveis diferenças de voz devido à adolescência, mas parecem mais seguros de si e cientes de seus personagens.

Daniel amadurece e vai bem especialmente em sua desenvoltura corpórea contracenando com criaturas mágicas. A Ruppert Grint é confiado o alívio cômico, e ele entrega com expressões faciais impagáveis. Já Emma Watson assume o papel de explicar o filme, sem efetivamente participar das principais ações dele: uma sabichona irritante que talvez seja a caracterização mais fiel de Hermione na série, mas também a mais incômoda.

Além do já citado Jason Isaacs, outra excelente adição é Kenneth Branagh como Gilderoy Lockhart. O ator diverte no papel do excêntrico-egocêntrico professor, ao mesmo tempo em que ao protagonista, nas entrelinhas, que um verdadeiro herói é modesto.

Christian Coulson fecha a trinca de novos destaques. O jovem ator, com passagens pelo teatro e TV, entrega um Tom Riddle persuasivo e calculista que convence como vilão. Só não é ainda melhor porque se esqueceram que ele tinha uma varinha em mãos. Seu personagem poderia facilmente representar um perigo ainda maior.

Veredito final: Harry Potter e a Câmara Secreta

Sentimentos mistos me ocorrem ao formular uma crítica a Harry Potter e a Câmara Secreta. Mesmo sem ser meu preferido, o longa merece admiração por todos seus feitos (e efeitos). Por outro lado, os cenários e atuações marcantes conflitam com os chavões, personagens caricatos e frases de efeito que volta e meia dão as caras. O resultado é um filme bom, mas massante, que peca pelo excesso de detalhes.

Olhando pelo retrovisor, o que Chris Columbus nos entrega em Câmara Secreta são duas alegrias: uma por seu trabalho grandioso com a série até aqui, outra por ter deixado a direção da franquia e aberto caminho para as necessárias mudanças que estavam por vir.

Nota geral: 3/5

Gostou da nossa crítica sobre Harry Potter e a Câmara Secreta? Leia também a crítica de Harry Potter e a Pedra Filosofal 20 anos depois.

Ilustrando esse artigo: Harry Potter and the Chamber of Secrets fan art 07, por Vladislav Pantic




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